Para Associação Brasileira de Estudos da Cannabis, o potencial terapêutico da Cannabis é comprovado cientificamente e merece um debate honesto.
A Cannabis possui mais de 500 substâncias, das quais cerca de 140 são canabinoides. Ademais, O potencial terapêutico da Cannabis é resultante da sinergia entre todo o fitocomplexo. Isto é: a utilização da planta in natura contendo óleos essenciais, terpenos, ésteres, flavonoides e fitocanabinoides, possui efetividade superior ao uso de seus componentes isolados ou sintéticos. O THC também tem propriedades terapêuticas, é anticonvulsivante, analgésico, anti-inflamatório e antitumoral.
O tratamento é individualizado
Aliás, a terapia canábica engloba múltiplos saberes, rompe com a lógica biomédica reducionista e deve ser individualizada, sendo de fato difícil se generalizar os resultados. Isso deve-se às múltiplas particularidades das próprias plantas e ao funcionamento metabólico de cada indivíduo. A terapêutica com a planta requer a lógica da promoção de saúde. Colocando em primeiro plano a educação, que é um importante elemento para se conquistar a autonomia.
Certamente, a Cannabis, como qualquer substância, precisa ter um uso controlado. Os estudos controlados são menos numerosos, em parte devido à proibição da planta, mas seu potencial terapêutico e os parâmetros para o uso seguro já estão demonstrados por diversos estudos e pela prática clínica.
A dose certa
Outrossim, no século XVI, já se afirmava que a diferença entre remédio e veneno estava na dose. No caso da Cannabis, além da questão da dose está a cepa utilizada pelo paciente. Esse controle deve passar pelo uso consciente e responsável e pelo acompanhamento do profissional de saúde que pode fazer indicações terapêuticas e balizamentos no sentido de reduzir possíveis danos. Devemos salientar que o uso médico de qualquer substância requer avaliação da dose e acompanhamento dos resultados terapêuticos
O potencial terapêutico da Cannabis é uma história antiga
No caso da Cannabis, suas propriedades medicinais já são conhecidas há milênios, tendo seu estudo científico ampliado a partir da década de 1960. Quando a molécula do Delta-9- hidrocannabinol (THC) foi isolada e identificada pelo Professor Dr Raphael Mechoulam e colaboradores da Hebrew University of Jerusalem, que identificaram o canabinoide endógeno anandamida no cérebro e o 2-aradoquinoil glicerol (2-AG) nos órgãos periféricos.
Os efeitos medicinais
Apesar dos possíveis efeitos adversos e colaterais que a Cannabis pode provocar, principalmente relacionado ao uso de altas doses de THC e a seu uso prolongado. Precisamos reconhecer seus efeitos medicinais e ponderar seu uso controlado. O professor Dr Elisaldo Carlini da Universidade Federal de São Paulo relatou possíveis efeitos adversos do uso prolongado de THC e que no campo cognitivo pode haver um prejuízo na capacidade humana de discriminar intervalos de tempo e distâncias espaciais, vigilância, memória e desempenho para o trabalho mental. Ena área psíquica, relatou reações como pensamentos desconectados, reações de pânico, alterações na percepção, delírios e experiências alucinatórias.
Em contrapartida, também destacou o seu efeito medicinal em náusea e vômito em pacientes com câncer, no auxílio para a retomada do apetite, na dor e na Esclerose Múltipla.
Enfim, o uso em outros quadros clínicos parece proporcionar benefícios, que precisam ser mais bem explorados por meio de pesquisas científicas que estão sendo realizadas em diversos países com regulamentação mais progressista sobre a Cannabis.
É necessário debate honesto sobre o potencial terapêutico da Cannabis
Entretanto, o embargo para o desenvolvimento de políticas e regulamentações que abarquem a questão da pesquisa e da produção da Cannabis interdita o conhecimento de seus potenciais terapêuticos e o debate honesto sobre o público mais vulnerável a seu uso não médico, incluindo crianças, adolescentes e idosos.
Assim sendo
, além dos efeitos do THC, outros canabinoides vêm sendo estudados. O Canabidiol (CBD), o mais popular, que vem sendo usado em casos de epilepsia refratária e que também tem mostrado efeito terapêutico em diversos outros acometimentos da saúde, como por exemplo, dor crônica, fibromialgia, psicoses e ansiedade. Outro exemplo seria o Canabinol (CBN), que tem sido estudado para insônia. No entanto, consideramos ainda mais importante em termos terapêuticos uma abordagem integral da planta levando em consideração os estudos sobre o efeito comitiva ou entourage.
Avaliação individual
O uso da Cannabis medicinal é milenar. O vasto efeito terapêutico em diferentes condições clínicas é, muitas vezes, potencializado pela sinergia dos seus componentes, como THC, CDB e diversos terpenos. Contudo, como qualquer medicamento, o uso crônico pode causar eventos adversos, tornando-se necessária a avaliação individual de riscos versus benefícios para promoção da saúde do paciente. O uso agudo, medicinal, da Cannabis é muito seguro. Não existe dose letal para o CBD e as doses letais do THC, em ratos chegam a 1900mg/kg, e mais de 3000mg/kg em cães.
Conforme sabemos, o uso crônico de Cannabis fumada (com altos níveis de THC), em especial na infância e na adolescência, traz prejuízos cognitivos e psicose em predispostos.
Entretanto, o uso medicinal não tem trazido esses efeitos nos estudos de longo prazo, dado o efeito protetor do CBD atuando em conjunto com o THC.
Primeiramente, é importante enfatizar que qualquer substância inalada através de processo de combustão possui alto potencial de danos às vias aéreas - não é recomendada como uso médico. Porém, inalação por vaporização é uma forma de administração que visa a alta e rápida biodisponibilidade, evitando o metabolismo hepático de primeira passagem. Como a via inalada leva a efeito rápido, mas também rápida cessação de seus efeitos, não se recomenda a vaporização como via de administração única. E sim, complementar a outra forma de administração, como a via oral.
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