Cannabis durante a Gestação, o que dizem os estudos

A Associação Brasileira de Estudos da Cannabis mostra os resultados sobre o uso da Cannabis durante a Gestação. 

Dado o aumento do uso adulto de Cannabis que tem sido liberado em diversos países, assim como da Cannabis medicinal, a exposição durante a gestação tem aumentado. Um estudo em Vancouver (Canadá) encontrou que 77% do uso medicinal da Cannabis na gestação foi decorrente de náusea, 50% para tratar falta de apetite, dor, insônia, ansiedade, depressão e fadiga. Apesar do conhecimento de potenciais danos ao feto, o uso de Cannabis na gestação tem aumentado e estudos de avaliação de segurança são cada vez mais necessários.

Os riscos do uso da Cannabis durante a gestação

O consumo de qualquer substância tóxica ou que atravesse a placenta durante a gestação possui potencial de causar danos a um feto em desenvolvimento. O risco de más-formações ocorre especialmente no primeiro trimestre. A partir da quinta semana de gestação a placenta estabelece seu mecanismo de transporte transplacentário. O abuso de álcool em doses altas durante a gravidez pode causar síndrome alcoólica fetal. O consumo de nicotina durante a gravidez já foi relacionado com TDAH53 e síndrome de Tourette na criança. Diversas substâncias terapêuticas usadas na gravidez podem causar malformações, tais como lítio e alguns antidepressivos. Entretanto, já é consenso que é mais danoso não tratar uma depressão na gravidez do que assumir os riscos de potenciais efeitos ao feto pelos antidepressivos.

São poucas as informações sobre os efeitos do THC em gestantes

Em relação ao uso de Cannabis na gestação, carecemos de estudos do uso de THC na gravidez que avaliem como se dá sua metabolização, percentagem de passagem placentária e  efeitos no Sistema Nervoso Central fetal. A Cannabis fumada tem absorção quase imediata e em concentração muito maior do que a via oral, que tem biodisponibilidade muito menor. Há indícios de que fatores fetais estejam envolvidos na concentração de THC, pois há relato de que gêmeos dizigóticos de mães usuárias de Cannabis diferiram nas taxas de THC no cabelo e na urina.

Os estudos de seguimento de mães usuárias de Cannabis têm encontrado taxas menores de peso nos recém-nascidos, tremores, reações de sobressalto, redução de sono, redução no processamento verbal e de memória, redução de concentração, controle de impulsos e hiperatividade. Esses estudos se baseiam no relato materno de uso, de modo que é difícil fazer correlações de dose-resposta. Além disso, o uso relatado é de Cannabis fumada, não havendo estudos com Cannabis medicinal.

Sendo assim, estudos são necessários para saber se a Cannabis medicinal na gestação e no aleitamento é danosa para o feto, de modo que no futuro possamos tomar medidas baseadas em riscos versus benefícios em relação a mães que não prescindam do tratamento, como ocorre atualmente em casos de mães deprimidas, bipolares ou psicóticas. Por ora, recomendamos que as gestantes sejam informadas quanto ao atual estado de conhecimento sobre a questão para que possam decidir em conjunto com seus médicos sobre o uso de Cannabis durante a gestação.

Leia o artigo na integra: Dez coisas que você precisa saber sobre Cannabis  

Participaram da elaboração do artigo da Sociedade Brasileira de Estudos da Cannabis

Ana G Hounie, psiquiatra, Doutora pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e
prescritora de Cannabis medicinal desde 2016.

Camila Sirieiro Abreu, Farmacêutica industrial, Mestrado na Fiocruz e Especialização em
pesquisa clínica na Invitare.

Eliane Lima Guerra Nunes, Doutorado FMUSP, especialista em Psicanálise Sedes Sapientiae,
especialista em dependência química UNIFESP, Coordenadora Geral da SBEC.
Jackeline Barbosa, Neurologista e Médica da Família. Doutorado em Ciências Médicas – UFRJ.

Mestrado em Neurologia – FMUSP-RP. Especialização em Bioética, Pesquisa Clínica e
Desenvolvimento em Fitoterapia e Biotecnologia Vegetal, Diretora do Comitê Científico para
Pesquisas Clínicas da SBEC.

João Carlos Normanha Ribeiro, médico intensivista, diretor médico da AGAPE, prescritor desde
2016.

Paula Fabrício, psiquiatra, Mestranda pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca
ENSP/ FIOCRUZ e prescritora de Cannabis desde 2018.

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